quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Panorama sobre Songs of Innocence and experience

Canções da Inocência e da Experiência foram publicadas pelo próprio autor e nos auxiliam a compreender a impressionante simbologia utilizada por este. Nesta obra, Blake busca representar a situação social, política e cultural da Inglaterra do século XVIII, que passava por inúmeras transformações, através de uma escrita transcendental da existência humana e questiona o pensamento religioso tradicional que paira sobre a sociedade.
Vale lembrar que essas obras não foram escritas e tampouco publicadas na mesma época. “Canções da Inocência” foram publicadas em 1789 e, quatro anos depois, em 1793 foram publicadas “Canções de Experiência” e, um ano depois, estas obras foram copiladas. Canções da Inocência é composto por uma ‘Introdução’ e dezoito poemas e as Canções da Experiência contém uma ‘Introdução’ e vinte e seis poemas foram publicadas em uma edição antológica pela Oxford University Press em Londres no ano de 1956.
Seu alto teor imagético e simbólico faz das “Canções” uma obra singular. Os poemas estão compostos em diferentes estruturas, são cheios de imagens possuindo uma grande simetria interna, além de serem repletos de musicalidade. Essa é uma obra que apresenta uma dicotomia da essência humana: os dois contrários da alma humana.
Em Canções da Inocência, encontramos um olhar voltado para a pureza do ser, a infância, um mundo mais pastoral, é simples e direta e trazem seus argumentos dentro do simbolismo ou conceitos abstratos, ele trabalha com personificações e remonta à linguagem e à simbologia bíblica para se expressar.
Em Canções da Experiência, William Blake acentua a malignidade do ser humano. Há realidade representada nas linhas dos poemas não é positiva e podemos ver um mundo mais adulto, corrompido e repressor, tal qual ele via a sociedade e as instituições religiosas.
Um estudo sobre essa obra é muito amplo, pois são diversos os aspectos que podem ser analisados a partir dela. Esta é a razão de selecionarmos apenas alguns poemas e focalizar no discurso religioso destes.
Foi escolhido um total de oito poemas sendo quatro de Canções da Inocência e quatro de Canções da experiência. Vale observar que, embora William Blake seja romântico, tomaremos certos princípios do simbolismo para analisarmos seus símbolos e seu discurso religioso. E segundo Portella (1979),

“a literatura implica num discurso simbólico, que não analisa o mundo histórico em sua imediatez (assim como faz a linguagem comum), mas da maneira específica da arte, criando os seus próprios significados e apontando para os sentidos latentes ou recalcados pela história: o não dito.” (p.162)

Por discurso religioso, entenderemos aqui como um discurso que se utiliza de argumentos teológicos para alcançar determinada finalidade, encontramos nesse discurso uma ideologia baseada em preceitos e símbolos “bíblicos”. Segundo Leão o discurso religioso provém de um pensamento mítico da realidade, e não através de uma algo que seja racional, como, por exemplo, o discurso filosófico. Sabe-se que o mito é sinônimo de lenda, de inverdade. Porém, tomando a forma de discurso religioso, “o mito deixa de ser lenda – isto é, um relato de estórias sem verdade – para reaver toda a força de sua palavra” (Leão, 2002, p.196) e passa a exprimir o sentido da vida, da existência humana.
O símbolo aqui será trabalhado através das imagens reais utilizadas pelo poeta a fim de criar uma representação que nos remeta aos princípios religiosos e expressem sua concepção, crença e pensamentos. Símbolo é, então, “an object, animate or inanimate, which represents or ‘stands for’ something else” (CUDDON, 1999, p885).

Quero você

Sem que eu cresse realmente
Você me apareceu
De forma surpreendente
Nosso encontro aconteceu.
Parecia ser um sonho
Ter você comigo aqui,
Por um momento eu senti
Que o mundo pra nós parou.
De uma forma mui profunda
Te desejo de coração...

Mas hoje você não esta aqui,
Sinto um misto de solidão e satisfação...
Satisfação por ter te sentido aqui...
E por ainda sentir em mim
Seus toques, beijos e tua voz...
Mesmo sendo hoje você apenas uma doce recordação.
Ao perceber tal coisa sinto-me triste enfim...
Sinto a solidão em mim!

Quero você de novo...
Seria pedir demais?
Não sei se tenho esse direito,
Mas sinto te querer mais.
Será que é assim com você?
Sente em sim também me querer?
Ficaria feliz em poder te ter e,
Com a mesma intensidade, completamente sua ser!